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    Rondônia, segunda, 09 de dezembro de 2024.
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Nelson Teich terá que ser meio Guedes, meio Mandetta

Desde o início do isolamento, falo três vezes ao dia com minha filha de quatro anos pelo Skype. Uma hora atrás estávamos brincando de Dak e Leyla quando ouvi um grito de minha ex-esposa: “Caiu o Mandetta!”. O quê?! “Caiu o Mandetta, papai!!!”. Ariana. Liguei a televisão e vi o presidente, com semblante fantasmagórico, reafirmando o de sempre: “saúde é vida e emprego”. Deixava claro que Nelson Teich, o novo Ministro da Saúde, tem como missão equilibrar a economia e a saúde na crise do coronavirus.

É óbvio que isso não vai funcionar. Diversos trabalhos acadêmicos já mostram, com unanimidade, que quanto mais cedo o isolamento completo (“horizontal”) é adotado em uma cidade, mais rápida é a recuperação econômica. Teich sabe disso. Mas, para mostrar lealdade ao presidente, afirmou na coletiva que “a redução da atividade econômica significa menos gente sendo diagnosticada, até para outras doenças”.

Quanto pior a economia, menos testes serão feitos para ver quem tem coronavirus? Não faz sentido. Mesmo que pequena, uma parte da atividade econômica será realocada para tarefas como esta e a produção de máscaras, entrega de produtos através de aplicativos etc.

Bolsonaro quer um ministro que seja meio Guedes, meio Mandetta. Quer o impossível. Empregos só serão retomados, a longo prazo, se houver isolamento horizontal. O Brasil corre o risco de ter o pior dos dois mundos: desempregados e mortos.

Teich está especialmente bem preparado para convencer o presidente de que não, não será possível preservar todos os empregos e ao mesmo tempo “minimizar” o número de vítimas do coronavirus.

O novo ministro é co-autor, com Vanessa Teich, do capítulo “Health Economics”. A segunda frase do texto é sobre o conceito de Custo de Oportunidade, definido pelos autores como “aquilo de que você desiste quando faz escolhas sobre a alocação de recursos humanos e financeiros”. (O trabalho está no livro “International Manual of Oncology Practice” [Ed. Springer, 2019] organizado por Ramon Andrade De Mello, Giannis Mountzios e Álvaro Tavares.)

Será que ele vai, como FHC, esquecer o que escreveu?

Fonte: Exame

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