Em um mês que trouxe um dos maiores desafios já enfrentados pela indústria de fundos brasileira, se saíram bem os gestores que estavam de fora do otimismo que era norma entre os investidores locais.
Adam Capital e SPX Capital conseguiram retornos positivos em março. Ambos compartilhavam uma perspectiva sombria da moeda do país que se confirmou: o real está entre as moedas de pior desempenho do mundo e atingiu o nível mais baixo de todos os tempos, enfraquecendo para R$5,20 por dólar.
Já as principais perdas foram da Verde Asset Management, do renomado Luis Stuhlberger, que admitiu que começou a comprar ações muito cedo na crise. Em sua carta mensal, o gestor disse que o mês “parecia não ter fim”.
Agora, a maioria dos gestores concorda que uma recuperação na bolsa provavelmente ocorrerá muito mais rapidamente nos EUA do que no Brasil — um forte contraste com a visão otimista para os ativos locais que alguns tinham no início do ano. As ações brasileiras caíram 30% em março.
Eles também terão que lidar com investidores impacientes, que já começaram a sacar seu dinheiro. Os fundos multimercados locais registraram uma saída líquida de R$5,1 bilhões em março, encerrando uma série de três meses consecutivos de captação positiva. Os dados podem ficar mais feios, pois ainda não capturam resgates que são honrados somente após 30 dias ou mais.
Veja o desempenho de algumas das maiores gestoras de fundos multimercados em março:
Adam Capital
Após dois anos seguidos de retornos abaixo da referência, a Adam Capital finalmente deu o troco. Apostas contra o real e ações dos EUA – posições antigas que machucaram os retornos no passado – deram resultado em março. Márcio Appel, um dos fundadores da empresa, disse que desfez a aposta contra o real, acrescentando que a moeda deve registrar um dos melhores desempenhos em mercados emergentes. Nos EUA, ele aposta em empresas de computação em nuvem e bancos e, no Brasil, tem comprado ações da Petrobras e da Vale.
Fundo Adam Macro II FIC em março: 1,04%; acumulado no ano: 3,66%
Link para carta e recente live de Márcio Appel
Verde
O fundo Verde registrou o pior mês desde o seu início em 1997 e a gestora espera reverter o resultado negativo com uma “recuperação bastante potente” das ações nos EUA. Em março, ao explicar as fortes perdas do mês, a empresa reconheceu que começou a comprar cedo demais.
Fundo Verde FIC em março: -11,46%; acumulado no ano: -14,15%
Link para carta
SPX Capital
A SPX, outra gestora que conseguiu escapar da sangria do mercado com uma posição mais cautelosa, disse que apostava contra o real desde 2012. O cofundador da SPX, Rogério Xavier, disse que ainda espera desvalorização do real, com retração do PIB estimada em 5% em 2020. Ele também diz que o Banco Central deve parar de reduzir os juros, uma visão não compartilhada por alguns de seus pares.
Fundo SPX Nimitz FIQ em março: 0,19%; acumulado no ano: 1,54%
Link para a recente live de Xavier
Legacy
Um relativo novato em fundos multimercados, tendo superado muitos pares no ano passado, a Legacy registrou perdas durante o mês, mas reduziu o impacto com apostas em volatilidade. A empresa disse que enxugou o portfólio e começou a apostar na queda dos juros no Brasil e no México, com posições compradas em ouro. A gestora também aumentou “paciente e cuidadosamente” apostas em ações no Brasil e nos EUA.
Fundo Legacy Capital FIC em março: -3,97%; acumulado no ano: -4,76%
Link para carta
Kapitalo
A Kapitalo também foi machucada por apostas otimistas em ações brasileiras e globais, posições que foram “significativamente reduzidas” em março. A empresa projeta que a economia deve encolher mais de 5% em 2020 e diz que o BC terá que reduzir ainda mais os juros, com risco de uma crise fiscal em 2021. Também aposta contra o real e o dólar.
Fundo Kapitalo Kappa em março: -5,93%; acumulado no ano: -8,49%
Bahia Asset Management
Um dos fundos multimercados com crescimento mais rápido dos últimos anos, o Bahia Marau teve perdas com juros e ações brasileiras. A empresa reformulou o portfólio de ações em março, reduzindo apostas nos setores de petróleo e consumo discricionário, além de encerrar uma posição contra empresas de telecomunicações. Também aumentou a posição em farmacêuticas e trocou parte da posição comprada em ações brasileiras por uma aposta em empresas dos EUA. O fundo também está com caixa disponível para futuras oportunidades.
Fundo Bahia AM Marau FIC em março: -6,54%; acumulado no ano: -7,6%
Link para carta
Fonte: Exame