A investigação sobre os assassinatos da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em março de 2018, avançou graças ao depoimento do ex-policial militar Élcio Queiroz. Ele decidiu confessar a participação no crime e apontar outros envolvidos, além de conceder provas, mediante benefícios judiciais. Com a delação premiada, homologada pela Justiça fluminense, o colaborador deve cumprir 12 anos de cadeia, sem ser submetido a júri popular, ao contrário do também ex-PM Ronnie Lessa, que ele apontou como autor dos disparos do duplo homicídio, conforme já haviam apurado a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro.
Preso há 4 anos – deve permancer mais 8 –, outro benefício que Élcio Queiroz deve ganhar é o direito a cumprir pena em um presídio estadual perto do local de moradia da família. Ele está trancafiado no presídio federal de Brasília, assim como Lessa – ambos residiam no Rio, até serem presos preventivamente para aguardar o julgamento. Por causa da delação premiada, Élcio também deve conseguir proteção para a sua família.
Na delação feita há duas semanas, em depoimento prestado dentro do presídio federal de Brasília, Élcio admitiu que dirigiu o Cobalt prata usado no crime e afirmou que Lessa fez os disparos que mataram a vereadora e o motorista. Ele também deu outros detalhes, como a forma que levantaram informações sobre a rotina de Marielle e o fim dado à arma e ao veículo, bem como os nomes dos responsáveis pela destruição dessas provas.
Além dos benefícios, de acordo com os investigadores, Élcio decidiu colaborar após saber que Lessa havia enganado ele, mentindo que não havia pesquisado sobre Marielle na internet. Élcio sabia que isso poderia facilitar o trabalho investigativo da polícia, o que de fato aconteceu. Ao ver o cerco se fechar, Élcio cedeu e entregou os comparsas. No entanto, negou saber quem é o mandante do crime, o grande mistério a ser desvendado.
Bombeiro delatado por Élcio é transferido para presídio federal
Foi Élcio quem entregou o ex-sargento do Corpo de Bombeiros do RJ Maxwell Simões Correa, o Suel. Preso na segunda-feira (24) após o depoimento do ex-PM, Maxwell será transferido para um presídio federal fora do Rio de Janeiro.
Maxwell seguiu os passos de Marielle por sete meses, até a execução do crime, e ainda foi o responsável por eliminar provas, de acordo com a delação de Élcio. Um dia após o duplo homicídio, Maxwell participou da troca de placas do veículo usado no crime, jogando fora as cápsulas e munições usadas por Ronnie Lessa, assim como o providenciado o desmanche do carro, segundo Élcio.
Suel foi preso pela PF com base em mandado expedido pela 4ª Vara Criminal da Capital (cidade do Rio de Janeiro), que considerou haver provas suficientes, apresentadas pelo Ministério Público do RJ, que apontam a ligação do ex-bombeiro com o caso, antes, durante e depois dos assassinatos. Na decisão judicial, é citada a ligação do ex-bombeiro com Ronnie Lessa.
Na decisão, “determinou ainda que o preso seja transferido para um presídio de segurança máxima fora do estado, uma vez que ele representa risco às investigações”. Até a transferência, determinou a Justiça, ele deverá ficar no presídio de Bangu I.
Delação de Élcio levou a um novo nome na investigação
A delação de Élcio Queiroz, feita há duas semanas e tornada pública nesta segunda-feira, trouxe um novo personagem à investigação sobre os assassinatos de Marielle e Anderson Gomes. Trata-se de outro militar de força de segurança do Rio de Janeiro.
Ronnie Lessa teria sido contratado por intermédio de Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, um sargento reformado da Polícia Militar executado em novembro de 2021, aos 54 anos. A informação foi dada por Élcio Queiroz, em colaboração com a Justiça, no intuito de ter uma pena reduzida.
Até esta segunda, Macalé nunca havia sido citado na apuração do Caso Marielle. Sobre seu assassinato, sabe-se que morreu baleado quando caminhava pela Avenida Santa Cruz, em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ele ia em direção ao seu carro, uma BMW, quando foi abordado por homens em um veículo branco, de onde saíram os tiros, segundo testemunhas.
Ainda segundo Élcio Queiroz, Macalé ajudou a levantar a rotina de Marielle, fazendo “campanas”, assim como o ex-bombeiro Maxwell Correa, preso na operação da PF desencadeada nesta segunda que visa elucidar o crime.
Durante as investigações foram identificadas ligações entre Ronnie e Macalé que coincidem com ligações entre Macalé e Maxwell Simões. Essas ligações teriam se intensificado nos dias imediatamente após o crime.
Macalé era de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, e era suspeito de ter ligação com a contravenção. Quando foi morto, Macalé estava com uma pistola Glock. Nem a arma, nem os documentos do policial foram roubados na ação.
Maxwell seguiu a rotina de Marielle por sete meses
Marielle Franco era seguida por Maxwell Correa desde agosto de 2017, até a execução do plano criminoso, sete meses depois. A informação consta na delação premiada feita por Élcio Queiroz.
Também na delação, homologada pela Justiça fluminense, Élcio confirmou que Ronnie Lessa fez os disparos. O delator ainda entregou outro comparsa, Maxwell, que teria sido o responsável por levantar informações sobre a rotina das vítimas. Ronnie e Élcio estão presos em penitenciária federal, à espera de julgamento, que não tem data marcada.
Informações sobre o envolvimento dos três citados foram feitas em duas entrevistas coletivas, realizadas em Brasília e no Rio de Janeiro, nesta segunda. Na capital fluminense, o delegado da PF Guilhermo Catramby afirmou que Maxwell fazia campanas desde 2017 para levantar informações sobre a rotina de Marielle, conforme o depoimento prestado por Élcio, há duas semanas, e que levaram à operação desta segunda.
“O Élcio detalha algumas coisas em relação ao planejamento, e esses detalhes, e apesar de saber, não tem maiores informações, porque a efetiva participação foi a partir de 14 de março de 2018, e a participação do Suel foi ainda em agosto de 2017”, comentou Catramby.
De acordo com as investigações, Maxuell participou antes, durante e depois do crime: além de suporte logístico, ele realizou monitoramentos e ainda destruiu uma das provas do homicídio — o carro usado também para transporte de armas. No dia seguinte ao crime, ele ajudou Ronnie Lessa e Élcio Queiroz a trocar as placas do veículo, a contactar a pessoa responsável por desmanchar o veículo e os executores a se livrarem das armas, jogando ao mar.
Informações de delator foram checadas e confirmadas por investigadores
Ainda na coletiva no Rio, o promotor de Justiça Eduardo Morais Martins, integrante da força-tarefa formada com a PF para desvendar o crime ocorrido em 2018, afirmou que as informações da delação premiada de Élcio Queiroz foram confirmadas por levantamentos feitos pela investigação.
“A novidade que houve foi a colaboração (de Élcio), que não é por acaso. Fruto de trabalho de revisão, melhoramos o arcabouço probatório para que pudesse investir numa linha estratégica de delação. Foi corroborada com levantamento. Não adianta receber informação por si só. Só adianta quando é corroborada. Se mostrou, em vários momentos, completamente de acordo. A versão apresentada foi confirmada de forma bem taxativa”, ressaltou o promotor.
Eduardo Martins contou ainda que, na delação, Élcio Queiroz disse que para conversas mais reservadas ele e Ronnie Lessa usavam o aplicativo Confide, que ofereceria “tripla confidencialidade” – nesse app a mensagem criptografada é destruída imediatamente após a leitura. Com a quebra de sigilo de dados da “nuvem”, peritos conseguiram comprovar o uso do aplicativo pelos supostos assassinos de Marielle e Anderson.
Fonte: O tempo









































